17/07/2012
Paz: substantivo composto

Buscada pela humanidade em diferentes períodos da história, a paz, nos dias de hoje, nunca foi tão ovacionada. Se cada um de nós for perguntado o que precisa ser feito para vivermos em paz, todos nós teremos respostas repletas de soluções já sabidas há muito tempo.
Contudo, o que falta para concretizarmos a paz no cotidiano de nossas vidas?

Um dos pontos críticos e do qual padecemos é viver sob, o que Pierre Weil chama de “fantasia da separatividade”. Esta separatividade, inaugurada ao nascer, estabelece relações de dualidade entre os sujeitos, entre sujeitos e objetos, entre sujeitos e a natureza. O binarismo dessa vivência institui saberes e fazeres, nos diferentes campos do conhecimento, nas diferentes áreas de produção, entre sociedades, entre religiões, desconectados das conseqüências da fragmentação, como destruição dos ecossistemas, violências, consensos dualistas, fome, miséria, etc. (Weil, 1993).

Superar tal fragmentação é investir na integração dos sujeitos através da mente, do corpo e das emoções, permitindo que esta integração se expresse em novas formas de relacionamento com a natureza e com a sociedade.

Na medida em que reconectamos com o universo e passamos a rejeitar a idéia de solidão existencial, compreendemos a vida de forma integrada a todo o universo. Essa idéia recoloca, de forma irreversível, o lugar de cada um dos seres humanos, rompendo com as polarizações e restabelecendo os laços de união com as formas de vida.

Todavia, essa compreensão não pode acontecer apenas de forma racional, é preciso transformar a célula central de promoção da paz: os seres humanos.

Para isso, é preciso compreender, pela visão oriental, que o contrário de paz não é guerra, mas sim estagnação! Tudo aquilo que fica parado, estagnado tende a apodrecer, como uma poça de água que de limpa torna-se suja.
Da mesma forma, há paralisia diante da vida, seja por medo, por insegurança, por desconfiança, por ilusão que produz conflitos nas mais diferentes escalas: pessoais, interpessoais, políticos, sociais, culturais, religiosos.

Desde o nascimento estamos imersos no processo conflituoso de viver. Passar por esse processo com sabedoria requer que sejamos capazes de transmutar velhos valores, compreendendo que, como centelha universal, reproduzimos o mesmo movimento dialético de expansão e contração.

Assim, como dimensão inerente à vida e caracterizado como forças de pólos opostos, o conflito aponta para a o exercício dialógico de escuta e ação frente aos problemas. O exercício de escuta de si mesmo e de valorização das mensagens de alerta emitidas pelo corpo, sentimentos, sonhos e relacionamentos constitui a tarefa mais importante e sutil na construção de uma nova maneira de lidar com as energias polarizadas dentro de cada um de nós.

Tal exercício aponta para a precípua necessidade de mergulharmos no oceano do autoconhecimento, da descoberta de nossa luz e de nossa sombra, procurando iluminar com escuta os pontos obscuros que nos levam a reviver ressentimentos e entrarmos em conflito.

A integração com as diferentes dimensões existentes em nós mesmos apontará para novos caminhos de trilhas menos percorridas.

Precisamos fazer viver o movimento de conciliação dentro de nós mesmos. Assim, sentiremos a serenidade e a paz nos levando para o lugar certo, impulsionando para a criação de novas saídas.

Pela inerente dualidade presente na vida, há sempre dois ou mais lados a serem considerados nas relações. Abrir-se a essa perspectiva permite deslocar-se do próprio lugar de saber e poder nas relações. Ao contrário do que se possa imaginar, não é a fala o veículo precípuo das relações, mas a escuta genuína e aberta ao universo do outro, o qual traz consigo uma série de elementos que foram se constituindo desde sua vida intra-útero até as influências da educação, cultura, família e religião.

Contudo, a sociedade atual é carente de possibilidades de escuta. Em prol de defesas pessoais e territoriais, os seres humanos vêm construindo profundos hiatos nos diferentes relacionamentos. Nem sequer são capazes de ouvirem a si mesmos.

Em escalas menores, os distanciamentos vêm se aprofundando e nunca estamos, de fato, conectados com o melhor que o outro pode ser, mas com nossa imagem refletida e imaginada.

A paz não é um pote de ouro no final do arco-íris ou algo para “iluminados”. Ela é algo sim, para os despertos e capazes de se abrirem de forma genuína ao outro, onde a Vida é feita de capacidade de reconhecer, ouvir e amar, onde o estado de consciência pode ser ampliado, aprofundado e renovado, gerando novas formas de viver a realidade.

Viver essa plenitude é decorrente do exercício da presença no cotidiano de vida que requer mudanças internas para transformar a visão e experiência da realidade. Compreendendo os centros de energia presentes em nosso corpo e procurando expandi-los em suas potencialidades, promoveremos a plenitude em cada âmbito da vida e, desse conhecimento, pode-se integrar os pólos, iluminando onde há sombra, permitindo que cheguemos ao pote de ouro que existe dentro de nós.

Com esse tesouro nas mãos, pode-se propagá-lo para os demais através das relações interpessoais e da proposta de uma vida mais integrada, harmônica e em paz.

Assim, para o cultivo da paz é preciso saber lidar com o conflito de forma apaziguada e construindo pontes de amor, é preciso compreender que a paz só se produz em nossos corações pelo exercício cotidiano de conexão com o Todo e com as diferentes expressões da vida e que tudo isso só será possível se a vivência for consciente de cada momento, de cada sentimento e de cada pensamento, através dos quais construiremos a plenitude e a harmonia interna e externa. O labor é cotidiano em cada sopro de respiração e em cada amanhecer nesse planeta.


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Savoirs expérientiels et approches compétences en santé
L’objet de cet article est d’examiner les procédés par lesquels les savoirs acquis au cours de l’expérience de la maladie trouvent à se dire et à se penser pour ensuite pouvoir être reconnus et diffusés.